Pesquisa mostra que reservas de água doce continentais, como lagos e rios, lançam mais metano na atmosfera do que o esperado.
Lagos e rios no ciclo de carbono
Pesquisa mostra que reservas de água doce continentais, como lagos e rios, lançam mais metano na atmosfera do que o esperado. Essas emissões deveriam ser consideradas nos balanços globais de gases causadores de efeito estufa.
Por: Sofia Moutinho
Publicado em 06/01/2011 | Atualizado em 06/01/2011
As emissões de lagos e rios deveriam, de acordo com novo estudo, ser consideradas nos balanços globais de gases do efeito estufa. Na foto, o lago Balkhash, na Ásia Central, um dos maiores do mundo. (foto: WikimediaCommons)
Reservas de água doce, como lagos, rios e córregos, são fontes naturais de gases- estufa. No entanto, a quantidade desses gases lançada na atmosfera sempre foi negligenciada nas estimativas de fluxos globais de carbono.
Uma pesquisa publicada na edição desta semana da Science (07/01) por cientistas suecos, norte-americanos e brasileiros aceitou o desafio de medir essas emissões e concluiu que a liberação de metano por ambientes aquáticos continentais é bem maior do que se pensava.
As emissões de lagos e rios chegam a contrabalancear a absorção de carbono realizado pelas florestas
A equipe de pesquisadores analisou o fluxo de gases em 474 ecossistemas com reservas de água doce ao redor do planeta e descobriu que essas reservas emitem 103 bilhões de toneladas de metano (CH4) por ano, o equivalente a 25% do total de carbono absorvido pelas florestas, o chamado sumidouro terrestre de carbono.
“Somados, os lagos e rios chegam a contrabalancear o sumidouro, pois o metano tem uma capacidade de absorção de radiação infravermelha, que causa o efeito estufa, 20 vezes mais elevada que o dióxido de carbono”, explica um dos autores da pesquisa, o biólogo Alex Enrich-Prast, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Ilustração do fluxo de carbono nos lagos. O carbono é absorvido pela vegetação através da fotossíntese. Quando as plantas morrem, o carbono é transferido para o solo e depois para água, onde pode ficar reservado nos sedimentos ou ser emitido como metano e dióxido de carbono.
Irregularidade cria dificuldade
Líder do estudo, o sueco David Bastviken, da Universidade de Linkoping, acredita que a quantidade de metano emitida pode ser ainda maior do que a encontrada. “Por ser tão difícil mensurar os fluxos de metano da água para atmosfera em todo o mundo, esses resultados muito provavelmente são uma subestimativa da quantidade real de metano emitida.”
A dificuldade de realizar estudos como este se deve à irregularidade das emissões de metano em ambientes aquáticos. “Muitas dessas emissões ocorrem esporadicamente, quando as bolhas de metano que são produzidas no sedimento no fundo dos ambientes aquáticos chegam à atmosfera, o que dificulta muito seu estudo de maneira adequada”, explica o pesquisador brasileiro.
Para chegar ao total de gás metano emitido em todo o planeta, os pesquisadores utilizaram dados de pesquisas anteriores e realizaram novas medições, principalmente em regiões tropicais, onde poucas haviam sido feitas.