Tratamento de Chorume

18-01-2011 18:52

 

Tratamento de Chorume


 


Fitorremediação na Essencis de Curitiba

Aterros testam tecnologias para


combater a contaminação

Hamilton Almeida

A complexidade do tratamento do chorume, líquido gerado pela decomposição de material orgânico e pela percolação de água em aterros, é um desafio constante para as empresas especializadas em saneamento ambiental. Mas estão surgindo novas tecnologias que prometem aperfeiçoar os resultados alcançados. Com tudo isso, as perspectivas de mercado são cada vez mais atraentes, principalmente porque há carência desse tratamento no país.

 

É muito complexo operar uma estação de tratamento de chorume com sucesso, dada a elevada Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO), a presença de metais pesados e de substâncias tóxicas, que inibem o processo e comprometem o resultado final. A explicação veio de Alfredo Rocca, gerente da Divisão de Resíduos Sólidos e Áreas Contaminadas da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb).

“Os tratamentos nem sempre são suficientes para enquadrar os efluentes nos padrões legais para lançamento em corpos de água”, acrescentou. A Cetesb tem constatado que boa parte dos aterros sanitários envia o chorume para as estações de tratamento de esgoto. Assim, “diminuíram os problemas causados por esse agente poluente e também o número de autuações por esse motivo no estado de São Paulo”, observou Rocca.

Para serem despejados em cursos de água, os líquidos de aterro devem atender às normas ambientais. Do contrário, a única alternativa é a coleta e o transporte

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Rocca: maioria manda o chorume para estações de tratamento

até as estações de tratamento de esgoto. Cabe à Cetesb fiscalizar a operação dos aterros e verificar se o chorume está devidamente coletado e tratado.

Como a quantidade de chorume gerada é proporcional à incidência das chuvas, que varia nas diversas regiões (em função do balanço hídrico local), a melhor estratégia de preservação ambiental passa pela tentativa de minimizar a infiltração das águas pluviais na massa do aterro, seja por meio de cobertura da área ou de drenagem. Também se armazena o chorume em tanques, de onde depois são transportados para tratamento junto com os esgotos.

Chorume é o nome popular dado para o líquido escuro gerado em lixões ou aterros sanitários, em decorrência da percolação das águas de chuva pela massa de lixo. O impacto ambiental deste líquido está relacionado, sobretudo, à alta concentração de matéria orgânica em decomposição, que demanda uma grande quantidade de oxigênio, retirado do meio que ele atingir, ou em que for lançado.

Rocca comentou que o esgoto sanitário, por exemplo, apresenta uma DBO da ordem de 300 mg/litro, enquanto que a DBO do chorume vai de 3.000 a 17.000 mg/litro. O chorume apresenta ainda concentrações de metais pesados e substâncias tóxicas. O descarte do chorume num corpo de água gera depleção de oxigênio, causando impactos como a mortandade de peixes e deixando a água imprópria para os usos a que se destina.

 

 

Tratamentos – A princípio há dois tipos de tratamentos para o chorume: o aeróbico (degradação com fornecimento de oxigênio) e o anaeróbico (realizado em reatores fechados, na ausência de oxigênio e com geração de gás metano).

A Essencis Soluções Ambientais, segundo a engenheira química Gabriela Fernandes, da área de Desenvolvimento e Inovação, está estudando três tecnologias para a melhoria dos seus processos de tratamento de efluentes e também para implantar o processo em outras unidades da empresa.
Uma das tecnologias é o tratamento do chorume por fitorremediação, ou seja, utilizando plantas. Funciona da seguinte maneira: os efluentes são direcionados até os jardins de plantas nos quais ocorre o processo de mineralização e descontaminação pelas ações das raízes e dos micro-organismos existentes nas plantas (biodegradação e lavagem dos metais pesados e outros materiais não biodegradáveis). Depois dessa etapa, o material é seco por evapotranspiração e, ao final, obtém-se um produto com valor na forma de composto, o qual pode ser usado como adubo. Gabriela destacou que esta tecnologia é única, patenteada por uma empresa francesa. A Essencis fará parceria com essa empresa para implantar o novo processo no Brasil no início de 2011.

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Gabriela: Essencis estuda três formas de tratar o seu chorume

Resultado da parceria entre os grupos Solvi e Camargo Corrêa, a Essencis se diz líder no mercado de soluções ambientais e também estuda o tratamento de chorume com a utilização de membranas filtrantes: a tecnologia de MBR (reator biológico com membrana) e osmose reversa. A empresa está avaliando as técnicas de MBR e osmose reversa em plantas piloto montadas em Curitiba-PR, com a previsão de instalar outro piloto em São Paulo, ainda sem data definida. Os resultados dos testes indicarão a possibilidade de combinar duas ou mais tecnologias para tratamento de efluentes críticos, como o chorume.

A tecnologia de osmose reversa é um processo físico que utiliza membrana semipermeável como um filtro capaz de separar o líquido em duas fases. Age como uma barreira seletiva na passagem de moléculas muito pequenas, retendo todos os sais dissolvidos e produtos orgânicos com moléculas maiores que 10-7 mm. O equipamento para este processo é composto basicamente por vasos de pressão tubulares contendo em seu interior as membranas filtrantes, sendo o líquido circulado com o auxílio de bombas de alta pressão, suficientes para vencer o potencial osmótico entre os líquidos dos dois lados da membrana, invertendo o fluxo natural do solvente (a água, no caso) do meio menos concentrado para o mais concentrado (daí o nome osmose reversa).

Gabriela afirmou que a tecnologia de MBR combina os benefícios da degradação biológica às vantagens dos processos de separação por membranas. Este processo funciona como um filtro que deixa passar através dele somente água, alguns íons e moléculas de baixo peso molecular, barrando os sólidos, bactérias e vírus. Esta alternativa é relativamente compacta em comparação com as opções convencionais de tratamento de efluentes, produzindo pouco lodo e um efluente de alta qualidade, considerando reduções substanciais de DQO, DBO e sólidos suspensos, ou seja, cargas orgânicas altamente reduzidas, o que resulta em um efluente que pode ser reciclado e/ou reutilizado.

Em unidades de Curitiba e Joinville, a Essencis possui estações de tratamento de efluentes convencionais, compostas de tratamento físico-químico, que compreende processos de coagulação, precipitação e adsorção, com a adição de sulfato de alumínio-ferroso, polímeros e carvão ativo em pó, com uma etapa posterior de tratamento biológico por lodo ativado, como informou a engenheira química Gabriela.

Apesar de a eficiência ser “satisfatória” para o tratamento do percolado gerado nos aterros industriais e no esgoto sanitário destas unidades, Gabriela destacou que a empresa está buscando novas tecnologias, visando o reaproveitamento da água tratada, ou seja, tornando o processo de tratamento de efluentes da empresa mais sustentável.

 

 

Ela explicou que o percolado dos aterros pode sofrer variações significativas nas suas características, que muitas vezes causam perda de capacidade de tratamento destas estações de tratamento de efluentes. Também por isso pode haver necessidade de um aumento na quantidade de insumos no tratamento para manter a qualidade do efluente tratado de acordo com a legislação para o lançamento em corpos de água. “Uma das desvantagens de uma ETE convencional é a necessidade de ocupação de uma grande área”, apontou.

A Essencis foi fundada em setembro de 2001. Possui as certificações ISO 9001 e ISO 14001 pela BSI Management System. As suas unidades estão localizadas em seis estados e empregam aproximadamente 700 funcionários. A CTR Caieiras, na região metropolitana de São Paulo, é a maior central de tratamento de resíduos da América Latina, com uma área de 3,5 milhões de m², sendo 43% da área coberta com vegetação nativa cultivada na própria unidade. Em 2008, iniciou a implantação da norma OHSAS 18001. O principal objetivo desta norma é eliminar ou minimizar os riscos às pessoas (colaboradores, terceiros e visitantes) presentes no local de trabalho.

A Haztec desenvolve projetos de tratamento de chorume em Nova Iguaçu-RJ, Seropédica-RJ e Candeias-PE. A CTR de Nova Iguaçu se encontra na fase II (duplicação de capacidade de 600 m³/dia). A fase I foi iniciada em julho de 2008. A CTR ocupa uma área de aproximadamente 600 m². Foi implantada e é operada pela Haztec/Geoplan.

A Central de Tratamento de Resíduos de Seropédica, que fica na região metropolitana do Rio de Janeiro, terá em 2011 duas linhas de tratamento em paralelo, com capacidade nominal de 1.000 m³/dia de chorume cada uma. A sequência de tratamento prevê o esgotamento de amônia com ar, seguido de absorção ácida, passagem por sistema de lodo ativado convencional, filtração em areia e polimento por nanofiltração, com recirculação do rejeito salino para um processo oxidativo avançado (fenton químico).

A CTR de Candeias tem capacidade de 180 m³/dia e foi implantada com tecnologia Tecma, terceirizada. De acordo com Marcélio Fonseca, superintendente de operações da Haztec Geoplan,

o custo dos empreendimentos se altera conforme a capacidade e a rota escolhida, que sofre variações em função dos requisitos ambientais locais. Assim, o investimento pode variar de R$ 6 milhões (300 m³/dia de tratamento) a R$ 15 milhões (1.200 m³/dia).

“A média de remoção de DBO é superior a 98% e a média de remoção de nitrogênio amoniacal é superior a 96%, superando, desta forma, os limites impostos pelo órgão ambiental local”, ressaltou Fonseca.

Quanto às inovações, a Haztec considera que sempre existem melhorias conforme as tecnologias vão se aprimorando. Em outras palavras, “o processo de tratamento é composto de uma sequênciade operações unitárias que se utilizam de

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Fonseca: Haztec desenvolve projetos em seus aterros

tecnologias específicas. Quanto mais evoluem estas tecnologias, mais os processos são aperfeiçoados”, explicou.

A Haztec é uma companhia controlada pelos grupos Synthesis e Santander e pelo Banco Bradesco BBI S.A. Está estruturada em quatro unidades de negócios: terra, água, energia e consultoria ambiental. Foi fundada em 1999 para suprir a crescente demanda por soluções integradas em meio ambiente. Ao longo do tempo, a empresa realizou importantes aquisições e consolidou a sua base tecnológica. São esses fatores que, segundo a empresa, atestam a capacidade de atender com serviços inovadores a uma ampla gama de clientes.

A Haztec é uma das maiores empresas no setor, atuando nas áreas de diagnósticos ambientais, remediação de áreas impactadas, gestão de energia renovável, gestão ambiental integrada, respostas a emergências ambientais e gestão de águas. A empresa desenvolve atualmente mais de 250 projetos em setores como geração de energia, petróleo, mineração, papel e celulose, cimento, mercado público entre outros.